sábado, 5 de agosto de 2017

A aposentadoria dos sonhos


      Tenho pais de idade semelhante, ambos sessenta e poucos anos. Para mim, estão ainda super novos. Ambos, ao entrarem nos sessenta, tiveram direito a receber suas aposentadorias, lucro em nossos tempos! Mas, o que era para ser um prêmio, ou um momento de aliviar os sapatos apertados, não parece ter sido passagem direta para um período de descanso e alegria. “Já estou mais pra lá do que pra cá”, “Acho que vou parar de trabalhar, mas não dá”, “O que vou fazer se parar de trabalhar” foram comentários que ouvi nesse período. Os dois seguem trabalhando. De onde os vejo, acho que estão no momento mais maduro de suas carreiras profissionais e que têm muito a dar e receber em suas profissões, se quiserem. Os reconheço pelo que construíram: sabedoria pela prática que tiveram. Acho legal que sigam trabalhando, pois gostam de suas atividades, mas com a possibilidade de fazer isso com os sapatos folgados, gravata afrouxada, no tempo que quiserem, sem tantas pressões.  Ter mais tempo livre para viajar, tomar um chá com os amigos, um vinho no fim do dia, levar os netos para passear, ler um livro que não seja de trabalho, aprender uma língua nova, iniciar um curso de dança, praticar caminhadas, encontrar um hobby...

     Entretanto, aposentar-se, assim como outros momentos da vida, traz um sentimento de vacilo, de incerteza sobre o que virá. Com esses sentimentos surgem perguntas: e agora, o que faço? Para onde vou? O que quero da vida? Quando acabamos o colégio é assim. Quando perdemos um emprego, ou quando alcançamos outro; quando concluímos um curso, quando compramos o carro que tanto queríamos e a casa própria; quando vemos que os filhos estão criados e encaminhados, enfim... como em tantos momentos da vida que temos que rever nossos objetivos, é assim.

     Ver meus pais hoje me enche de orgulho, pois vejo que alcançaram quase todos os objetivos que traçaram: criaram os filhos, estudaram, trabalharam numa crescente evolução, constituíram um patrimônio, são reconhecidos por serem ótimos pais e profissionais.

     Mas também os vejo passar por esse momento que se perguntam: e agora? Agora abre-se aquele vazio das transições. Ali onde é preciso coragem para olhar para si mesmo, ouvir-se, reconhecer o que falta em si. Sim, pois enquanto formos vivos sempre nos faltará algo. Será preciso se pensar para reconhecer suas motivações nessa nova etapa. Como em outras etapas da vida, ver o que tem-se de ferramentas em seu favor e também as fraquezas, o arsenal para o jogo e bolar a próxima jogada. Essa jogada poderia ser montar um curso para iniciantes, já que têm bagagem para compartilhar seus saberes, curtir a casa, as plantas, livros, filmes ou bolar uma viagem à cada ano para lugares que queriam conhecer e nunca foram. Se a grana não der, pois aposentar-se no nosso país não é mole, inventemos outras coisas que caibam em cada realidade.

     O fato é que, aposentar-se traz um conflito junto com a aposentadoria: o que fazer daqui para frente. E para resolver todo conflito é preciso coragem para pensar e reconhecer o que está se passando com as emoções. Só assim é possível encontrar quais são as nossas motivações. Aposentar-se dos seus sonhos é a loucura eminente, a depressão ou a morte. Precisamos de objetivos para viver!

     Conversar com os familiares e amigos pode ajudar. Com um psicólogo também. Há muita vida pela frente, muito jogo pra jogar!

     Se você se identifica com esse momento converse com alguém. Se você conhece alguém que esteja vivendo essa transição, converse com essa pessoa, ofereça uma escuta. E caso siga difícil encontrar suas motivações, a psicoterapia é uma alternativa. Marque uma consulta com o psicólogo. Assim como em qualquer outro momento de mudança é preciso pensar, falar e ter um espaço para construir o novo.

     Sempre, enquanto houver vida pulsando em nós, falar e ser escutado é dádiva e ferramenta de melhor viver!

     Psicóloga Andressa Grando Hoewell

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